sexta-feira, 4 de julho de 2014

Participação no XII Encontro Paulista de Educação Matemática (XII EPEM) em Birigui

Eixo Temático: Resolução de Problemas e Investigação Matemática

A IMPORTÂNCIA DOS MATERIAIS MANIPULATIVOS NO ENSINO DE GEOMETRIA

Joice Yuko OBATA – ICMC/USP – SP (joiceyuko@gmail.com)


Resumo: No presente relato encontram-se as experiências das aulas de geometria ministradas pela professora em formação e bolsista do programa Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência). As aulas foram ministradas semanalmente, primeiro para uma turma formada por alunos da 2ª e 3ª séries do Ensino Médio nos meses de março e abril e posteriormente para uma turma formada somente por alunos da 2ª série nos meses de maio e junho, ambas na  E.E. Dr. Álvaro Guião, do município de São Carlos. Essas aulas objetivavam revisar tópicos de geometria plana e espacial (definições de ângulo, perímetro, área; classificação de figuras geométricas, área lateral e volume de sólidos geométricos). Para isso, foi utilizado materiais manipuláveis como recortes em cartolina de figuras geométricas planas, planificações e sólidos montados a partir destas, assim como problemas retirados das provas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), para preparação à esse exame e fixação do conteúdo. Mediante as aulas e a comparação da participação e do desempenho das duas turmas através da participação das mesmas, constata-se que o uso de materiais manipuláveis foi mais significativo do que os exercícios do ENEM, para a revisão e a dedução de fórmulas para calcular áreas e volumes, pois além de despertar mais interesse dos alunos, favoreceu a participação da turma na aula. Logo, essa experiência fez com que seja priorizado mais os materiais manipulativos para utilizar com as futuras turmas, após a formação na graduação da autora, pois se mostrou importante para a construção de prática como futura docente, se tornando mais uma ferramenta extremamente útil para promover o ensino de Geometria.   

Palavras-chave: materiais manipulativos, geometria, prática docente.



Introdução
           
No decorrer da formação, participou-se do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid da CAPES, na área de Matemática, intitulado “Apoio à docência como componente articulador da teoria e prática na formação inicial do professor”; com atuação em escolas estaduais da cidade de São Carlos. Os principais objetivos do programa são: incentivar a formação de docentes para a Educação Básica; contribuir para a valorização do magistério; elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura, promovendo a integração entre o Ensino Superior e a Escola Básica, inserindo os licenciandos no cotidiano dessas escolas e proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas de caráter inovador e interdisciplinar, que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem.
As aulas com a utilização de materiais manipulativos foram ministradas primeiramente para uma turma formada por alunos da 2ª e 3ª série do Ensino Médio, de março a abril de 2013, e posteriormente para uma turma formada somente por alunos da 2ª série, de maio à primeira semana de junho, ambas na E.E Dr. Álvaro Guião, do município de São Carlos, às quartas-feiras, no período das 18h às 19h. Tais aulas objetivavam fazer revisões de tópicos de geometria plana e espacial (ângulo, perímetro, área, classificação de figuras geométricas como quadrado, triângulo, retângulo, paralelogramo, trapézio, pentágono, hexágono, área lateral e volume de sólidos geométricos como: cubo, paralelepípedo, prismas de bases triangular, quadrada, pentagonal, hexagonal, pirâmides de base triangular, quadrada, pentagonal, hexagonal, cilindro, cone e esfera). Para isso, foi utilizado materiais manipuláveis, como recortes em cartolina de figuras geométricas planas, planificações e sólidos, além de problemas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).
Nos meses de março e abril, foi dado a primeira aula para a primeira turma, foi priorizada a utilização de exercícios do ENEM, por causa de seu interesse pelos vestibulares, pela necessidade de praticar a interpretação de enunciados extensos para futuros problemas matemáticos relacionados à geometria (embora não apareçam com frequência nessas provas), pois considerou-se que estas são questões importantes, pelo uso do raciocínio lógico, e os alunos geralmente têm dificuldades para o seu entendimento. Por este motivo, as aulas intercalavam-se entre conteúdo e exercícios, ou seja, primeiro era introduzido os conceitos de geometria (ângulo, classificação dos polígonos, perímetro, área, sólidos geométricos, suas características, áreas totais e volumes) sanando as possíveis dúvidas, e depois, era distribuído exercícios para que os alunos praticassem. Na última aula, foi aplicado uma avaliação e se percebeu o baixo desempenho deles, já que não fizeram a maioria das questões. Esse fato mostrou que a percepção de que estavam entendendo as explicações, nas aulas anteriores, não se sustentava. Ou entenderam e não se lembravam, por não terem reestudado a aula, ou sequer haviam compreendido. Além disso, percebeu-se que durante as aulas os alunos ficavam dispersos e poucos deles realmente prestavam atenção e queriam aprender. Somando-se a isso, observou-se que muitos não apresentavam o entusiasmo de fazer as questões quando viam muitos exercícios.
            Por estas razões, decidiu-se que nos meses de maio e junho seria mudado o método das aulas para a segunda turma. Passou-se a apresentar algumas atividades lúdicas para prender mais a atenção dos alunos e tentar, de alguma forma, aumentar o interesse e a curiosidade deles com relação à Geometria. Com isso, utilizou-se o emprego de atividades diferenciadas tanto em formato de jogos como na aplicação de exercícios que priorizassem o raciocínio lógico, a concentração e a memorização, com alguns pontos dinâmicos como o tempo de resolução dessas questões. Assim, em cada aula era aplicado uma atividade diferente e dinâmica, para cada tema da Geometria já citado anteriormente. Assim como para a outra turma, nesta também foi aplicado uma avaliação na última aula e se percebeu que, embora o desempenho não tenha sido tão bom quanto se esperava, houve uma grande boa diferença, já que esses alunos realmente tentaram resolver todos os exercícios, o que não aconteceu com a turma anterior. Além disso, constatou-se a questão da maior colaboração que os alunos tiveram na aula e o interesse que mostravam em cada atividade passada.

Experiência Desenvolvida

            O relato se inicia com as aulas dadas do período de março e abril para primeira turma – alunos da 2ª e 3ª série do Ensino Médio. No dia primeiro dia, 27 de fevereiro, foi aplicado uma atividade para observar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito de ângulos, perímetros e áreas. A atividade consistiu em blocos contendo 4 perguntas cada, sendo uma de cada assunto: ângulos, perímetros, áreas e classificação de polígonos. As perguntas eram bem básicas. Por exemplo: “Qual é o nome do polígono cuja soma dos ângulos internos somam 180º?”. O objetivo de ter elaborado perguntas elementares foi para avaliar os conhecimentos básicos dos alunos, pois se eles estavam em fase de vestibular, imaginou-se que não poderiam ter tantas dificuldades com aqueles assuntos referentes ao Ensino Fundamental. E se constatou que isso, infelizmente, não ocorria. Portanto, as próximas ações deveriam ser propostas para tentar amenizar tais dificuldades.
            No dia 6 de março, foi aplicado uma atividade para revisar questões relacionadas com ângulos, perímetros e áreas de polígonos que são mais frequentes nas provas do ENEM, além de incentivarem os alunos praticarem mais a interpretação com relação a exercícios de longo enunciado. Comentou-se sobre um dos pontos que os alunos tiveram mais dificuldades, que foi sobre a nomenclatura de alguns tipos de triângulo e ângulo, definindo o que eram os acutângulos e obtusângulos, pois foram respostas inesperadas que apareceram para as perguntas aplicadas na aula anterior. Além disso, foi comentado sobre a dificuldade que o pessoal teve para interpretar as perguntas: “Qual o nome do polígono que tem duas retas opostas paralelas e as outras duas concorrentes? e “Qual polígono que possui retas opostas duas a duas paralelas e ângulos dois a dois iguais? Resposta: Paralelogramo.” E foi sendo explicado através da interpretação visual, ou seja, conforme a leitura da pergunta, desenhava-se a figura geométrica com o uso de retas.
No dia 13 de março, explicou-se sobre conceitos relacionados a sólidos geométricos e foi apresentado uma forma dedutiva de como calcular suas respectivas áreas totais, explicando o que é sólido geométrico. Em seguida foi introduzido o cubo, através da representação que foi tomada emprestada do LEM (Laboratório de Ensino de Matemática do ICMC-USP) e foi mostrado a planificação correspondente; e assim se seguiu com outros prismas (paralelepípedo, prismas pentagonal e hexagonal), lembrando que o cubo também é um prisma. Feito isso, explicou-se como calculava a área lateral de cada prisma, usando o método de calcular separadamente a área de cada figura envolvida no sólido geométrico, e somar todas as áreas no final. Depois seguiu-se com a pirâmide, também foi mostrado sua planificação e a representação, sendo uma com base triangular e a outra de base quadrada. Acrescentou-se que a pirâmide admite outros polígonos em sua base. Por fim, explicou-se que eles poderiam calcular a área lateral da pirâmide, tanto usando a fórmula que envolve o apótema (a), perímetro (p) e a área da base (A) => S = 1/2pa + A, como também através do cálculo das áreas separadamente, e depois somando tudo (S = 4ATriang + AQuad). O mesmo procedimento foi usado para explicar como se calculava a área do cilindro, bem como a mostra de sua planificação.
            No dia 3 de abril, foi aplicado uma atividade para observar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito de volumes de sólidos geométricos, entregou-se blocos de perguntas relacionadas a essa temática. Cada bloco tinha duas perguntas. Percebeu-se que eles não conseguiam responder com muita rapidez, apesar do tempo estipulado para cada bloco de perguntas, pois estavam com dificuldades de identificar o sólido apresentado na pergunta. Muitos interpretaram prisma como pirâmide. Pode-se verificar isso através do esboço feito na folha de resposta dos alunos.
            No dia 17 de abril, explicou-se conceitos relacionados a sólidos geométricos e como calcular seus respectivos volumes, através das figuras geométricas citadas e apresentadas. Iniciou-se a aula retornando os exercícios feitos pelos alunos que foram entregues ao longo do bimestre, já corrigidos. Houve bastante participação dos alunos nesse momento, mas percebeu-se muitas dificuldades, pois nem todas as questões estavam respondidas e naquelas em que havia respostas, a maioria estava errada. Logo depois, iniciou-se o conteúdo sobre volume de sólidos geométricos, conceituando volume e explicou-se como calculava o do cubo, do paralelepípedo, prisma e pirâmide. Explicou-se como calculava o volume do cilindro, cone e esfera, fornecendo exemplos, retomando a correção de algumas questões que foram dadas na aula anterior.
No dia 24 de abril, corrigiu-se dois exercícios do ENEM, usando exatamente o tempo que havia sido disponibilizado para a correção (15 minutos); no restante da aula os alunos fizeram a prova que estava prevista para esse dia. Esses exercícios envolviam uma questão que comparava volume de uma semiesfera e de um cone e outra com volume de cilindro. Após a correção, aplicou-se a prova. Constatou-se que aplicar a prova para uma turma extremamente numerosa é realmente uma tarefa difícil para o professor. Por mais que fosse chamada a atenção de que a prova era individual e sem conversa, os alunos conversavam o tempo todo para discutir as respostas e só paravam quando era chamado a atenção deles diretamente, pois quando era pedido silêncio a todos, alguns alunos ainda continuavam a conversar.  Além disso, observando-os durante a resolução da prova, pode-se perceber que a maioria estava com muita dificuldade de responder, apesar do fato de que algumas questões eram exatamente iguais às perguntas aplicadas em grupo nas aulas anteriores.
A partir desse momento o relato se refere às aulas dadas em maio e junho para a segunda turma - 2ª série do Ensino Médio. No dia 8 de maio, aplicou-se uma atividade para avaliar o conhecimento da nova turma em relação aos tópicos de geometria plana (ângulo, perímetro e área), sendo o mesmo aplicado para a turma anterior;
No dia 15 de maio foi explicado sobre conceitos de ângulo, perímetro e área usando materiais manipuláveis (recortes de polígonos em cartolina). Andava-se pela sala e pelos grupos perguntando se tinham dúvidas e era observado se os alunos estavam conseguindo responder as questões, e quase todos os grupos estavam tentando. Notou-se que havia grupos que precisavam de um “empurrão”, pois um deles não estava fazendo a atividade. A pergunta pedia para descobrir o valor da incógnita, sabendo o valor do perímetro, então lhes foi perguntado “qual é o conceito de perímetro?”, o que responderam corretamente; depois foi perguntado o que aconteceria se fosse somado todos os lados e eles não sabiam responder, e a resposta era uma equação do primeiro grau, feito isso, um dos integrantes do grupo falou: “Então era só isso?”. Assim, nota-se que eles não estavam conseguindo relacionar a equação do primeiro grau com o cálculo de perímetro, o que mostra as dificuldades de inter-relação entre a geometria e a álgebra.
            No dia 22 de maio, revisou-se o cálculo de áreas de figuras geométricas planas, enfatizando a importância de se conhecer a área do retângulo e, através das figuras geométricas manipulativas, deduziu-se as fórmulas das áreas das demais figuras. Além disso, foi explicado como se calculava a área de um setor circular, tópico que um aluno pediu para ensinar. Após a revisão, foi aplicado três exercícios para fixar o cálculo da área das figuras propostas. A turma participou muito, fazendo os exercícios propostos, discutindo com os colegas, olhando as anotações do caderno ou tirando dúvidas.
            No dia 29 de maio a aula foi sobre áreas totais de sólidos e foi estimulado aos alunos a não ficarem decorando fórmulas, mas sim a pensar de onde elas vieram, como foram deduzidas. No caso das áreas laterais de sólidos geométricos, não utilizou-se fórmulas, mas levou-se os alunos a raciocinarem sobre a soma de todas as áreas dos polígonos presentes no poliedro, utilizando as planificações desses sólidos. Feito isso, foi formado duas fileiras, com apenas 8 alunos em cada uma, pois devido à chuva forte do dia, vários alunos estavam ausentes. Fixou-se uma caixa fechada para cada fileira manipular. Dentro das duas caixas de papelão, as quais tinham dois orifícios em uma das faces para que os alunos pudessem colocar suas mãos e manipular seu conteúdo, havia sólidos geométricos e suas respectivas planificações. Porém, os alunos não podiam visualizar o conteúdo da caixa, apenas tocar os objetos. Foi passado com cada uma em uma fileira e indagando a respeito do nome e dos elementos do sólido ou da planificação que o aluno apanhava.
            No dia 5 de junho, iniciou-se a aula sobre volumes de sólidos geométricos. Começou-se a aula falando sobre o volume do cubo e do paralelepípedo, depois sobre o volume de prisma e pirâmide. Para este último, explicou-se porque o volume valia um terço do volume de um prisma de mesma base e altura. Como havia tempo, também tratou-se do volume do cilindro e do cone e, para finalizar, da esfera. A sala prestou atenção e não havia muita conversa paralela ao ponto de atrapalhar a aula. Para possibilitar a fixação do conteúdo da aula, foi passado três exercícios para calcular o volume do paralelepípedo, pirâmide e cilindro. Enquanto os alunos tentavam responder, andava-se pela sala para ver se estavam conseguindo responder às questões. E quando se percebia que estavam com dificuldades para resolver, era dado um “empurrãozinho”, pois havia alunos que não tinham entendido o enunciado.
            No dia 12 de junho foi aplicado uma avaliação para verificar o aprendizado dos alunos. Entregou-se a prova e só um aluno terminou rapidamente (em cerca de 20 minutos). Considerou-se que a prova estava extremamente fácil, pois foi tudo relacionado ao conteúdo visto em sala anteriormente. Mesmo assim eles tiveram dificuldades em desenhar as figuras geométricas pedidas, bem como fazer os cálculos. Notou-se que os alunos pensaram que as questões de área eram iguais aos exercícios dados em sala de aula (abordou-se o cálculo de área do trapézio, triângulo e retângulo), pois muitos desenharam trapézio ao invés de losango, e na prova foram abordados os mesmos, exceto o trapézio. Além disso, por mais que se tenha desenhado a pirâmide de base quadrada na lousa e os alunos tenham tocado nos sólidos e nas planificações, apenas 7 conseguiram responder corretamente essa questão e apenas 12 conseguiram calcular seu volume. A questão menos respondida ou acertada foi a que pedia para calcular a área total do cilindro dado (apenas 3 acertos). Havia uma questão relacionada à didática da aula, e quanto aos comentários relacionados à essa questão, no geral foram bem positivos; muitos gostaram das aulas, disseram que foram proveitosas e os ajudaram na aula de matemática regular. Um aluno achou que as aulas não eram diferenciadas, sendo parecidas com uma aula normal. O comentário mais interessante foi de uma aluna que disse ter ido mal na prova por erro próprio: ela reconheceu não ter estudado mais fora da escola. Obviamente, pelos dados acima, percebe-se que o cálculo de área total, os desenhos de figuras geométricas precisam ser mais bem trabalhados, pois o desempenho dos alunos com relação a essas questões foi sofrível.
            Mediante a comparação da participação e do desempenho das duas turmas, constata-se que o uso de materiais manipuláveis foi mais significativo do que os exercícios do ENEM, na dedução e revisão de fórmulas para calcular perímetros, áreas e volumes. Logo essa experiência fez com que fosse percebido a importância da utilização de atividades lúdicas e materiais manipulativos para auxiliar nas aulas de matemática.
            Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) sugerem que a Matemática seja apresentada de modo significativo aos alunos, de preferência com o uso de jogos, tecnologias da informação ou por meio de materiais manipulativos e resolução de problemas da vida cotidiana. Em nosso caso, para as atividades do Pibid no grupo de Geometria, optou-se por utilizar uma associação desses dois últimos recursos, com a finalidade de promover o raciocínio lógico para a dedução das tão temidas “fórmulas da geometria”, mas com um suporte de visualização para facilitar esse raciocínio e também a memorização das mesmas.
           
Referências

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. 1998.


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